28 maio 2007

Deus e os deuses ou a arrogância do Homem

Deus e os deuses ou a arrogância do Homem

Hoje há muitos deuses: o deus do dinheiro, o deus do futebol, o deus Estado, o deus da Pátria, o deus do sexo, o deus da ciência, o deus da sorte e do azar, o deus do ateísmo (que é também um deus, ainda que virado do avesso) e, por aí fora…

Para homenagear estes deuses o Homem inventou uma série de ritos e símbolos. Quem já viu um cortejo de catedráticos em sessões universitárias solenes sabe do que estou a falar.

O Homem criou Deus à sua imagem e semelhança mas, disse exactamente o contrário.

Esta criação é uma daquelas ideias - provavelmente a mais forte de todas - que uma vez construídas podem subjugar o Homem. É o que tem acontecido ao longo da História.

Tal como existe a blogosfera existe também um espaço virtual onde habitam as ideias criadas pelo Homem. Elas nascem, crescem e, na sua maioria, também morrem mas, outras permanecem, algumas parecem eternas como é o caso da ideia de Deus.

Para mim, o mais espantoso é que a ideia é tão forte que funciona, isto é, os que têm fé podem tirar muito partido dessa fé: tudo o que lhes ocorre de bom vem de Deus se alguma coisa má lhes acontece é por ser essa a vontade do Senhor pois Ele lá sabe o porquê, pode estar a querer pô-los à prova.

A força da ideia de Deus é tão grande que um crente facilmente entra em êxtase no processo de adoração do seu Deus. É tão forte que pode levar ao sacrifício máximo da própria vida, o que acontece hoje com os homens bomba e no passado tantas vezes aconteceu com os cristãos. Esta linha de pensamento é que permite compreender o que queria dizer Marx quando se referiu à religião como sendo o ópio do povo.

A minha grande dúvida é saber se a Humanidade está em condições de viver sem Deus, pois só nas sociedades tecnologicamente avançadas Deus foi morto e, aí, são bem visíveis muitos dos desmandos que a ausência de Deus pode trazer. Como criação do Homem, Deus tanto pode ser o Sol, um gato ou uma serpente, o Universo, até a Humanidade. Deus pode ser qualquer coisa desde que os crentes tenham fé nessa coisa, o que levanta o problema da “verdade” – todas as religiões proclamam a sua verdade como única, e não podia ser de outra maneira, senão, não seria verdade.

As verdades absolutas são bastante perigosas, sabe-se que uma verdade aqui pode não o ser na Índia e vice-versa, como a verdade de hoje pode ser a mentira de amanhã.

A emergência dos deuses faz crer que o Homem, tomando consciência da sua fragilidade e da sua própria e inevitável morte, tenta arranjar um esquema mental que o liberte de tais males. O Homem tem muita dificuldade em confrontar-se com a Morte, hoje até a esconde como se ela o envergonhasse.

Parece-me, que os criadores, mentores e senhores das religiões se têm aproveitado das crenças dos povos para melhor os subjugarem e servirem os seus interesses, em que um dos mais gritantes e indignos é o de justificarem e motivarem os povos para as guerras.

Tenho, para mim, que os religiosos com fé e recta intenção são pessoas boas que geralmente orientam a sua vida por estruturas de valores que os tempos aperfeiçoaram, o que me leva a ter um grande respeito por todos os crentes e por todas as grandes religiões da Terra.

José Tavares

27 maio 2007

Quem deve avaliar os professores

Quem deve avaliar os professores?

Sobre a avaliação dos professores, tal como a dos médicos, advogados, engenheiros e outras, teríamos uma tese para escrever.

Primeiro, julgo que é importante apurar o conceito de "profissão" no sentido que lhe é dado pela literatura anglo-saxónica e que em português não tem nenhum vocábulo que lhe possa ser equivalente.

Profissão é uma ocupação de alguém que foi sujeito a uma formação universitária longa, no mínimo com o grau de licenciado, que tem uma função e preocupações sociais, que não pauta a sua actividade por razões de lucro (senão seria um negócio), que exerce a sua actividade com autonomia (não confundir com independência) e, finalmente, cuja avaliação (regulação se se quiser) é feita entre e pelos pares.

Para apurar este conceito de regulação entre pares podemos pensar na regulação da actividade profissional realizada pelas ordens, na dos médicos, por exemplo.

O que está em causa na avaliação agora decretada pelo governo é que ela não satisfaz este requisito, ao invés, coloca a avaliar os professores pessoas estranhas à escola e que têm uma visão menor e meramente normativa da função docente, refiro-me, obviamente, aos inspectores.

Isto não significa que o ME não possa definir critérios e momentos dessa avaliação, bem como as suas consequências mas, atente-se bem, quanto mais o ME se distanciar do processo avaliativo dos professores maior é a garantia de que a avaliação não funciona como elemento de persuasão política. Temos assistido a uma crescente utilização partidária do sistema educativo o que leva a supor o empenho do governo na instrumentalização política do processo avaliativo dos docentes

Ao ME não deve caber a indicação de quem irá avaliar os professores sob pena de cairmos na partidarização do ensino, processo a que, apesar de tudo, as escolas e os professores têm resistido, muito embora na conjuntura actual pareça quase inevitável que tal venha a acontecer, a menos que, o professorado eleja como prioridade da sua acção reivindicativa a inclusão na sua formação contínua da abordagem da Profissionalidade Docente o que não tem sido possível pois tem sido o ME a definir as prioridades da formação contínua dos docentes.

A ofensiva posta em prática contra os professores é um processo suicidário que leva ao descrédito dos professores e da escola e ao afastamento dos pais do acompanhamento dos seus filhos na escola e da correspondente colaboração com os professores.

No discurso deste processo raramente se pondera num facto muito importante com o qual todos parecem estar de acordo: deu-se uma explosão escolar, a “escola de massas” mas, essa explosão escolar não foi só de alunos, tinha de ser de professores também.

Se alunos desmotivados para a escola passaram a sentar-se nos seus bancos, paralelamente, muitos candidatos a um novo emprego encontraram na escola a resposta às suas necessidades. A carreira docente ofereceu-se mais fácil que anteriormente e ainda propiciadora de uma mobilidade social nunca antes vista.

Nos anos 80 e 90 assistiu-se ao recrutamento massivo de novos professores, alguns deles, sem que disso tivessem consciência, mal preparados e com os quais o ME não tem tido a atenção desejável e que lhes seria devida.

Os resultados estão à vista porque o que mais salta à vista, são os pontos mais negativos do sistema quando afinal, vistas as coisas com alguma seriedade, por essas escolas fazem-se milagres! A propósito vale a pena dar uma vista de olhos a um livro de Joaquim Azevedo (ontem em entrevista no Diga Lá Excelência na TV2) que foi